livre me confesso

Perdi-me na fotografia e, perdendo-me nela, perdi-me na vida. Tudo se tornou um amontoado de ingredientes metidos no mesmo penico, mexidos com a mesma colher de pau, execrável, de tão ácido que estava.

Não quero fazer fotografia a metro. Não quero fazer o que eles querem de mim. Ouvi-os e as suas vozes tornaram-se confusas, agora murmúrios distanciados, que falam de um trabalho que não é o meu mas o que eles ajudaram a criar. Dizem sem saber de quê. De muitos deles digo o que se diz dos críticos literários, que são falhados.

Tenho o direito de me devolver a mim mesma, de reencontrar o meu orgasmo fotográfico sem ter de pensar o que os senhores, do alto dos seus pedestais, têm a opinar. Verdade seja dita, respeito muito poucos. Não tenho de fotografar para lhes agradar mas para agradar a mim mesma.

Soltarei grilhetas e irei encontrar-me ao fundo de mim própria, por mais que custe, por mais distante que esse ponto esteja. Gostava de mim, apreciava o meu trabalho, antes de me terem dado ordens ou, mais cinicamente, directrizes. Foi com elas que me perdi, é sem elas que me vou encontrar: sentindo, cheirando, exalando. Mais do que amadora, sou uma amante de fotografia. E que se lixe com um F garrafal se querem ou não publicar.

Em suma, há quatro anos que a máquina e o coração não se fundem para fotografar, antes se concertam num movimento desajeitado.
Não lamento, assumo, porque aprendi a capacidade de desprezar a opinião de muitos.

Armem aos cágados senhores. Para mim, retiro-lhes simplesmente o acento para que se tornem no que são.

Mesmo que aqui não venham, um abraço, e bom trabalho nas vossas editorias fotográficas. Eu partirei do caos e reformular-me-ei.