quarta-feira, 4 de novembro de 2009

o que se me apraz dizer



É quando olho alguns jovens fotógrafos, cheios de garra, aparente potencialidade e muito para dar à fotografia em Portugal, vendo-os a cair naquilo que a publicação quer, precisa, ou tem a mania que precisa, que mais pondero sobre o que é ser fotojornalista neste jardinzinho à beira-mar calcinado.
é quando recordo o trabalho de alguém, que demorou mais de um ano a ser feito e teve em troca o pagamento de 800 ou 900€, que tenho a certeza que qualquer coisa está mal neste burguinho.

É nestas alturas que me apetece abanar os primeiros e dizer-lhes: ponham-se a andar daqui para fora. Portugal não é um país para jovens talentosos. Portugal é um país cinzento, gerido maioritariamente por gente acomodada, a quem o talento dos novos faz temer, cortando-lhes cerces as expectativas, amputando-os, manipulando-os.

Depois de uma Grande Geração, que tinha e sabia por que lutar, veio outra: a que dificilmente tem objectivos que vão para além dos seus próprios ordenados, postos ou umbigos, perfeitamente acomodada na ausência de necessidade de fazerem ou exigirem melhor. Num ou noutro ainda se encontram os ensinamentos dos antigos, que estão maioritariamente de partida para outro plano da vida. Poucos, muito poucos.

Recordo o dia em que, chegando à redacção com um trabalho merdoso, um muito e verdadeiramente querido editor me recebeu aos gritos: “nós não publicamos trabalhos de merda porque gostamos de publicar merda! Publicamos porque nos trazem merda!”. Não desistiu, que teria sido o mais fácil. Mandou-me para outro, logo de seguida. E fiz talvez o melhor trabalho do género que havia feito até então. Nos meus ouvidos soava “merda não”; ao disparar focava-me em: “desta vez vais-te orgulhar de ter insistido, de me teres gritado, de me teres abanado”

Quantos lutam ainda pelos seus colaboradores? Quantos se importam em dar segunda oportunidade ao primeiro resvalanço?

Paísinho cinzento e acomodado, onde os melhores trabalhos dos fotógrafos estão nos seus sites pessoais, os de qualidade mais dúbia nas publicações. Quem manda aqui? E, sobretudo, quantos ainda para recuperar esta coisa a que chamamos imprensa em Portugal?

Pela parte que me toca, e porque já tenho demasiadas raízes e dependentes que me prendem cada vez mais a esta terrinha de terceiro mundo iluminado (à conta da EDP) dificultando-me o salto para a estranja, baixo os braços e desisto.
Farei aquilo que os poucos a quem ainda respeito me deixarem e oferecerem para fazer.
De resto opto pelo: “empresa tal, bom dia, está a falar com fulana. Em que posso ser útil?” , esperando que aqueles que ainda vão a tempo ponham os olhos num João Pina e não se deixem ficar para o meu tipo de opções.

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