Fotografar é quase um acto de egoísmo, muitas das vezes justificado pela solidão sentida quando tenho uma série de pessoas à minha volta com quem, por este ou aquele motivo, não consigo comunicar.
É nesse momento, em que me torno surda e muda, em que os gestos já não ritmam qualquer som, em que me sinto um ET a aguardar a nave, que me deixou aqui por engano, que sinto uma explosão de todos os outros sentidos, essencialmente o da visão, que entra em acordo directo com o sentimento. É aí que me apetece ter uma máquina e registar as coisas mais simples, que me dizem mais do que as pessoas que estão ao meu lado. E não é uma regressão. É um estado de necessidade de comunicar, do mais simples ao mais complexo, mas de coisas que não espero que os outros entendam.
As minhas mãos andam a necessitar de acariciar uma máquina. Os meus olhos, querem reter coisas simples. Não daquelas a que os profissionais chamam fotografia de qualidade, ou sequer fotografia, mas tão só as folhas que recortam e ondulam sobre a parede branca. A simplicidade da redescoberta, o andar sozinha, a ver, de olhos no ar, a tropeçar nos buracos, sem a mentira e ofuscação das produções; o esgar momentâneo e único de quem está, ou já passou, e com quem nunca mais virei a cruzar-me.
O meu sentimento, a minha máquina, a minha conclusão.
Foi assim que comecei.
Terminarei da mesma forma.
Creio que a isto se pode chamar liberdade.
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