sexta-feira, 14 de agosto de 2009

psicologia de pacotilha




Um dos problemas do Ser Humano, e que lhe pode causar grande mal-estar é, não exactamente tentar chegar mais longe mas convencer-se que nasceu grande e exemplar. Não consegue entretanto ver-se e aceitar-se em crescimento, deseja muito além do que a sua própria perna consegue alcançar. Esquece aquela velha máxima do 1% de talento e 99% de trabalho, alimentando um certo sentimento de inveja em relação a quem lhe parece ou está efectivamente mais longe, eventualmente porque até tem o dobro do talento e do trabalho.

A nossa medida deve ser a nossa capacidade e essa é para alimentar com metas alcançáveis a curto ou médio prazo. Não será boa ideia renegarmo-nos porque não somos ou não atingimos o patamar de alguém com quem, teimosamente, queremos comparar-nos. Sumariamente, anulamo-nos, e às nossas qualidades, quando queremos ser o que não somos; quando, por vezes, perdemos o discernimento e a modéstia sobre nós mesmos.

Ao longos dos últimos cinco anos, a completar em 22 de Agosto, tenho assistido a várias formas de lidar com este mesmo sentimento: ou são velhos que mantêm uma postura superior quando nunca chegaram a ser ninguém; ou são novos, que rapidamente se farão velhos iguais aos outros, a quererem alcançar num passo o que necessitam de muita luta para conseguir. Uns e outros são frustrados. Interiorizam e exalam frustração, espalhando-a, comunicando-a a terceiros. Não são boas companhias e provocam um mal-estar interno cuja origem é dificilmente identificável.

Talvez por isso, cada vez mais aprecio o meu caminho solitário, auto-crítico, de muita insegurança, mas onde não faço comparações. Apesar de todos os rótulos que me possam pôr, positivos ou negativos, tenho vindo a tomar cada vez mais consciência da minha pequenez e do quanto seria necessário trabalhar para alcançar metas muito além das que a minha falta de entrega e espírito de sacrifício me permitem.
Obviamente que a isso muito ajudaram críticas sem sentido e injustas; a isso muito ajudam as críticas frias e objectivas, mas envoltas num certo carinho, do meu filho e da minha mãe (em quem, inexplicavelmente e por cegueira minha, encontrei uma comum mas sensível “olheira” fotográfica).

Se gostaria de alcançar outros patamares na fotografia? Com certeza que sim. Sou tão humana como todos os outros. Só não faço disso uma questão de vida ou de morte; interiorizo aquilo que quero e estou disposta a dar em relação ao mister e, sobretudo, mantenho uma postura de muita dúvida em relação à qualidade que podem ter fotografias que são feitas por prazer do mais genuíno, para a obtenção das quais não há um superior investimento psicológico ou de trabalho.

Regredi aos tempos do Ar.Co: máquina ao ombro, a sentir e a comunicar com o mundo. Demorou? Sim! Foram anos a acumular frustrações de opiniões alheias, a maioria das quais não sei se sempre dadas com boa intenção.
Tenho as minhas metas, obviamente que tenho, mas de acordo com a minha capacidade, o meu espírito de sacrifício e sempre muito consciente de que a fragilidade de um e de outro me podem dificultar o seu alcance.

Comparações com outros? Não é o caminho.

1 comentário:

Joana Vieira disse...

muitíssimo boa a foto e o texto, adorei!


beijinho!