sexta-feira, 31 de julho de 2009

eu, precária me confesso



Nunca, que me conste, a Select/Vedior ou qualquer outra Empresa de Trabalho Temporário (ETT) defendeu um trabalhador seu, meros braços e cabeças a funcionar (no caso da Sonaecom, em péssimo ambiente laboral) para, da sua força de trabalho, darem um lucro à ETT que se situa na ordem do dobro e por vezes do triplo do que o empregado recebe.

Não há formação capaz, existe uma luta e desgaste constantes do empregado temporário, todos os meses com o pescoço na guilhotina, sem nunca saber quando cai a lâmina. Foi assim em Maio de 2008, quando a Sonaecom encenou preocupação em integrar gente colocada na ONI, oferecendo a quem tinha turnos matinais horários vespertinos. Dessa vez nada se falou, nada se soube. Até porque o trabalhador que se encontra sujeito à dificuldade de encontrar um emprego directo e a ser passado entre ETT’s como se de mercadoria se tratasse, receia, ao próximo e sempre latente desemprego, não encontrar onde se sujeitar a nova exploração desavergonhada – não vamos esquecer que o Provedor dos trabalhadores temporários, Dr. Vitalino Canas, continua a ser pago pelas ETT’s.

Hoje é diferente. Será a própria Select/Vedior a lamentar, não o desemprego forçado de duas centenas de pessoas – como não lamentou nem arranjou colocação para as dezenas dispensadas em 2008 - mas o facto de ter perdido um concurso relativo a tão importante cliente, que fez com que pessoas a necessitarem de ganharem para viver fossem tratadas como gado excedentário.

O mercado de trabalho está minado e, até para que as ETT’s ganhem concursos, será de todo aprazível que haja alguém bem colocado, a punir pela dita.
Faça-se uma análise às ETT’s que têm trabalhadores colocados no Estado (sim, o Estado tem quadro de excedentes mas também recorre às Ett’s!) e talvez se encontrem ligações interessantes. Já agora, dê-se uma vista de olhos pelas empresas de segurança que prestam serviço nos vários organismos do Estado, em que uma delas sobressai, e tente perceber-se o motivo.

Mas as ETT’s vão passar por um mau bocado e, consequentemente, todos os trabalhadores que delas dependem, que não passam de números, contabilizados por ordenados dos quais recebem, na melhor das hipóteses, metade.
Em período pré-eleitoral, a nova atitude é trabalhar para as estatísticas do desemprego. E passo a explicar: dispensam-se funcionários por extinção de posto de trabalho, absolutamente colocáveis e válidos para outros postos e vão-se buscar as pessoas que estão no fundo de desemprego, que continuam a receber o fundo de desemprego, cobrindo o organismo do Estado onde serão colocadas o diferencial para que a tabela salarial fique correcta.
Compreensível e nada contra, uma vez que até representa poupança para todos nós, mas porquê só agora, a um mês das eleições? Porque motivo alguma vez entrou no Estado um contrato com uma ETT?

Acredito que as estatísticas mensais do desemprego venham a sofrer grandes alterações antes do acto eleitoral. Saem do desemprego, ainda em Agosto, uns milhares de pessoas; entram nas estatísticas do desemprego, já em Setembro ou em Outubro, mais algumas, dispensadas pelas ETT’s. Salve-se a aparência para as eleições

Interessa a algum órgão de comunicação social falar disto? Que se me aparente não – já tentei e a resposta foi: “isso já não é notícia, já todos falaram disso”. Falar é uma coisa, analisar e procurar motivos outra, totalmente distinta

E cá continuamos, cantando e rindo, até chegar um ditador (honesto, porque dos outros já temos), ou irmos contra a nossa índole laxista e fazermos, de uma forma síncrona, alguma coisa por nós mesmos.

Já agora, se tiverem por aí trabalho – não peço emprego mas mesmo trabalho, justamente remunerado - eu e mais uns tantos, todos com currículos conquistados a pulso, em que as licenciaturas não foram obtidas a um domingo, muitos apanhados na reviravolta da crise ou das desculpas com ela, nós, alguns dos precários agradecemos.

1 comentário:

Thaypan disse...

Penso que estás a pregar no deserto. Isto não vai lá com falinhas mansas...lembras-te do nosso Hino...
"ás armas, ás armas, sobre a terra e sobre o mar"....essa terá que ser a solução.