quinta-feira, 20 de novembro de 2008

realidades ignoradas


"Arquitecta há mais de dez anos (a recibos verdes claro) num atelier internacionalmente reconhecido, deparo-me agora com uma situação que nunca passei atravessar: um cancro de mama.

Sempre descontei para a segurança social (do meu bolso claro) e esta oferece-me agora uma "baixa" ridícula: posso ficar em casa até 12 meses, sem pagar a prestação à Segurança Social e sem direito a qualquer tipo de remuneração.

Deve-se ter em conta que um tratamento oncológico deste tipo demora cerca de um ano e meio... e a pseudo-baixa é de um ano!

No entanto, se trabalhasse por conta de outrem a mesma baixa poderia alongar-se até três anos. Deduzo então que o Estado parte do princípio que os profissionais liberais (forçados ou não) têm mais saúde e podem alegremente trabalhar entre quimioterapias e nos pós-operatórios.

Vivo neste momento da caridade. Da família e da entidade patronal, apesar das suas ameaças de despedimento. Para que não seja despedida tenho ido trabalhar quando na verdade só me apetece ficar em casa a descansar e a enjoar...

Para além do processo de cura ser doloroso, passo os dias a pensar que não escolhi ter um cancro mas alguém escolheu não me fazer a m**da de um contrato de trabalho e, mais uma vez, não posso contar com o Estado.

Acrescento ainda que tenho um bebé.

Vou iniciar uma acção jurídica contra a "entidade patronal" pois acredito que todo o dinheiro que me devem será o meu meio de subsistência nos próximos tempos. "

Aqui

--
FERVE - Fartos/as d'Estes Recibos Verdes
___________________________________________________________________


Por mero acaso, como freelance, a recibos verdes, tenho um trabalho começado sobre este assunto que nunca avançou porque, dizem os editores, não interessa às publicações.


Talvez também por mero acaso, dizem-me que "já toda a gente falou nisso", mesmo que as situações surjam e piorem todos os dias.


O que provavelmente já não será mero acaso, é o facto de a APESPE nunca ter aceite os pedidos de entrevista pessoal ou respondido a três mails com a entrevista por escrito.


Acaso ou não, o Provedor para os Trabalhadores Temporários é pago pela APESPE, coisa que só os mais interessados e/ou tocados pelo assunto sabem. Isto e outras coisas. Testemunhos reais, onde há gente que tem nome e cara.


Contudo, a nossa imprensa escrita não mistura o anúncio ao Volvo ou ao Rollex com realidades menos cor-de-rosa porque o povo precisa é de sonhar, não de pensar.


Continuamos a alimentar uma sociedade onde a ileteracia cresce a olhos vistos, sustentada pelos órgãos de comunicação social. Não se utilizam palavras menos vulgares porque a população já não as sabe entender ou, na pior das hipóteses, nem ler.


Os grandes grupos, comandados, diz-se que não se sabe bem por quem, controlam o acesso à informação. Não há censura. Apenas uma escolha no sentido de ir ao encontro do que as pessoas gostam de ler/ver.


Mas tudo vai bem, neste jardinzinho à beira mal calcinado.


Como diz a Xana, "se queres ser feliz, não aprofundes!"

Sem comentários: